segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Tráfico de animais selvagens




















Quando se retira um animal da natureza, é como se quebrássemos ou, ao menos, enfraquecêssemos o elo de uma corrente. Lógico que somente um animal não faria falta mas, não apenas um e sim, centenas, milhares de animais são retirados por ano de nossas matas. Para se ter uma idéia, um caminhão rotineiramente utilizado no tráfico de animais transporta cerca de 1.000 espécimes (alguns chegam a transportar 3.000 animais). Basta, então, se perguntar: quantos caminhões estão rodando pelo país e quantos destes poderiam estar transportando animais silvestres em meio a sua carga?

A população humana cresceu muito, em 2011 já somos mais de 7 bilhões de habitantes e, no Brasil, mais de 180 milhões que exercem uma imensa pressão sobre os habitats naturais e, também, diretamente sobre a fauna. Calcula-se que o tráfico de animais silvestres retire, anualmente, cerca de 12 milhões de animais de nossas matas; outras estatísticas estimam que o número real esteja em torno de 38 milhões. Todas estas estimativas, embora pareçam alarmismo e exagero, tomam outra dimensão quando consideramos o seguinte:

1. Quantas pessoas você conhece que possui ou já possuiu um animal silvestre (o papagaio da vovó, o pássaro preto do vizinho, o canário do amigo, o coleirinho na gaiola da venda etc);

2. As estimativas se baseiam, basicamente, no que é apreendido o que, infelizmente é ínfimo frente ao traficado;

3. Devido as condições em que são capturados e transportados, a taxa de mortalidade é altíssima;

4. Finalmente quanto maior for a população, caso não mudemos nossos conceitos maior será a pressão sobre os animais.

Ressalta-se que não somente o indivíduo capturado fará falta ao ambiente mas, também, os descendentes que ele deixará de ter. Assim, pode-se perceber o tamanho do impacto que a retirada de animais causa ao meio ambiente. Outro detalhe, muitas vezes esquecido, é que o impacto não se restringe à extinção da espécie capturada. Na natureza as espécies estão interligadas no que chamamos de teia alimentar, ou seja, os animais comem e são comidos por outros animais além de, também, se alimentarem de plantas, realizarem a polinização das mesmas e, muitas vezes, dispersarem suas sementes.

Se eu retiro do ambiente uma espécie que dispersa a semente de determinada árvore pode ser que esta árvore não mais conseguirá se reproduzir e, se suas folhas servem de alimento para determinado tipo de inseto, dentro de alguns anos este também poderá se extinguir. Este inseto podia ser o principal alimento de determinado pássaro que agora também será afetado pela retirada daquela primeira espécie que não possuía uma relação direta com ele. Estas são as implicações do tráfico na teia ecológica e muitas vezes pode afetar espécies que, a princípio se imaginaria não ter nenhuma relação com a espécie traficada.


Paulo.

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Claudia é Medica Veterinária formada pela UNESP Botucatu (2000) e mestrado em Reprodução Animal pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (2004). Desde 2005 é coordenadora e responsável técnica do Centro de Triagem de Animais Selvagens Refúgio Mata Atlântica LELLO-UNIMONTE. Tem experiência na área de reabilitação e conservação de animais selvagens, clínica e cirurgia de animais selvagens e domésticos, atuando nos seguintes temas: resgate e captura de fauna, atendimento emergencial de animais selvagens e domésticos, reabilitação de fauna acometida por petróleo e outros compostos químicos, elaboração de termos de ajustamento de conduta nos aspectos que tangem a fauna, elaboração de projetos de centros de triagem, zoológicos, criadouros de fauna, elaboração de planos de contingência que envolvam a fauna e a adequação dos procedimentos industriais relacionados a interação com a fauna.